Filas de autógrafos após as conversas literárias são comuns. A de Luís Fernando Veríssimo, na Bienal do Livro de Campos, formava uma frase bem grande, quero dizer, uma carreira enorme de leitores. Num certo momento ele autografou para uma leitora cega que se aproximou dele com uma encadernação em braile. O autor ficou um tempo sem fala nos dedos, deslizou a mão na folha e perguntou se poderia escrever na primeira página. Ela respondeu que poderia ser em qualquer lugar. Veríssimo deixou sua marca no caderno onde o relevo é o intérprete do escritor e sua dedicatória não será vista pela fã, mas “sentida”.
É preciso transpor as barreiras entre homens, educação e cultura. A criança que mendiga nos semáforos, os pedintes das esquinas que ficam enquanto passamos têm direito ao saber, ao entretenimento, ao cultivo da sensibilidade por meio dos livros. Impossível? Não, não é.
Estava eu no Café Literário, acompanhando um tributo à escritora Rachel de Queiroz, quando vi um senhor entrar na sala. Eu já o conhecia. Tratava-se do “homem do sinal”, um vendedor de guloseimas que já me inspirara a escrever um poema (leia). Ele sorriu pra mim (como faz no vermelho do sinal de trânsito), estendeu-me a sua mão e perguntou se sou jornalista, pois me viu com a câmera fotográfica e um bloco de anotações.
O que sou? Uma privilegiada. Não apenas por participar de um evento desse porte, mas especialmente porque meu olhar está além da visão. É assim que a gente se alegra com o que parece apenas mais um detalhe e permite que a nossa história não seja um monólogo. Não somos as únicas vozes.
(Fátima Nascimento)
Luís Fernando Veríssimo quando foi autografar a encadernação em braile de sua fã |
Foto: Fátima Nascimento
2 comentários:
Fátima,
Excelente seu"olhar que escreve" sobre a Bienal.
Parabéns!
Walnize
Walnize, obrigada!
A gente ainda não se encontrou na Bienal do Livro de Campos. Mas ainda deve acontecer. Bj.
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