31 maio 2006

Eu bebo palavras. E você?

Fátima Nascimento

Palavras existem de todo tipo: as ditas para responder; as pronunciadas para perguntar; as que emitem opiniões; as que calam a razão e deixam fluir a emoção. Podem ser lidas ou ouvidas. De qualquer maneira, prefiro palavras bebíveis. Letras não estão na forma líquida, mas existem falas que temos sede de beber. Não deixamos escapar sequer uma letra. Queremos matar nossa sede de conhecimento. Palavras que façam alguma diferença no nosso tumultuado cotidiano.

Com tal sede estive na 4º Bienal do Livro de Campos no seu primeiro dia, no sábado 27. Tomei cada palavra da escritora e educadora Cristina Coronha. “Temos atraído pessoas para nossas descobertas?” - perguntou. Fiz mea-culpa. Compartilhava mais meus aprendizados. A resistência das pessoas em crescer, arregaçar mangas, fazer a diferença no meio em que vivem/trabalham, me fez recuar. Faço uma seleção quase instintiva sobre com quem dividir minhas descobertas e conceitos.

Temos que criar pontes; vínculos. Nós é feito d´eus ”, engoli novamente. Cristina Coronha defende a união de pessoas em torno de idéias, mas sempre com o tempero afeto. “Temos que educar crianças, mas temos que reeducar adultos (...) O exemplo é sinal de que tenho algo para dar. Eu só posso dar o que eu tenho”. Bebi cada palavra, cada pensamento na oficina “Melhores pais, melhores filhos: educar pelo exemplo”.

Se quanto mais se aprende, mais se quer saber, eu quis mais. O cronista e romancista Alcione Araújo deu-me novos goles. “Nunca o mundo esteve tão despreocupado com o outro e radicalmente preocupado consigo”. Nenhuma novidade, mas temos que ouvir pra entrar dentro de nós e quem sabe provocar alguma mudança.

Somos passivos em excesso. O capitalismo enraizado nos tira de nós mesmos, rompe a nossa relação afetiva, nos torna máquinas. Somos números na selva de pedra em que transformamos nossa vida, nosso habitat. Alcione alerta que o nosso tempo está sendo roubado pelo capitalismo avançado e a emoção cedendo lugar à razão.

As pessoas cada vez dedicam menos tempo aos seus desejos. Você corre o risco de fracassar a sua vida por não dar importância ao desejo”, alfineta. Quando Alcione fala “desejo”, não se refere ao carnal, mas sobre permitir-se imaginar, sonhar para então realizar. Enquanto escritor, ele tem consciência de que só é efetivamente ouvido quando o seu verbo não está sob o controle da razão, mas da emoção.

A crônica é uma aventura diária necessária, disse o jornalista Luís Peazê – integrante do time de escritores no evento. Deste ponto de vista, uma vez por semana sou embarcação. Levo quem faz a leitura de meus textos a lugares que dependem da experiência de quem os lê. Se as pessoas são diferentes, a percepção estética, emocional e racional também varia Quando você chegar ao ponto final, terá lido 482 palavras. Mas se o leitor completa o texto, como disseram Luís Peazê e Alcione Araújo, a próxima palavra é sua.

Jornal Monitor Campista, 2º Caderno, 30/05/2006

28 maio 2006

A vez da emoção


Alcione Araújo (à esquerda) em palestra na Bienal do Livro de Campos

No primeiro dia da 4º Bienal do Livro, em Campos/RJ, participei de duas oficinas (sobre elas falarei outra hora) e de palestra no "Café Literário". Pelo café (opcional) paguei três reais, mas consumi gratuitamente as palavras de Alcione Araújo. O cronista e romancista falou sobre escrever com a emoção em detrimento da razão. "Só vou aparecer como realmente eu sou quando o meu verbo não estiver sob o controle da razão", disse.

Vencedor do Prêmio Jabuti 2005 (categoria crônica) com o livro "Urgente é a vida", Alcione revelou que o título da obra baseia-se no fato das pessoas cada vez dedicarem menos tempo aos seus desejos. "Você corre o risco de fracassar sua vida por não dar importância ao seu desejo. Aposto mais no seu desejo que na razão, pois a razão está viciada pelos seus limites".

A 4º Bienal começou em 27/05 e termina dia 04/06, com entrada franca, na Fundação Rural, em Campos/RJ, das 10h às 22h. Mais informações no site da prefeitura.

Observação:
Embora Alcione Araújo estivesse na programação do evento,
não encontrei nenhum livro do autor à venda nos estandes de expositores.

foto: fatimanascimento

27 maio 2006

Eu leio livros. E você?

Participar da 4º Bienal do Livro, em Campos dos Goytacazes/RJ, está nos meus planos para este fim de semana. O evento ocorre de 27 de maio (sábado) a 04 de junho na Fundação Rural, das 10 às 22h. De acordo com o site da Bienal, confirmadas as presenças, dentre outras, de Affonso Romano de Sant'Anna, Alcione Araújo (de quem li "Urgente é a vida" e adorei!), Floriano Teixeira, Ignácio de Loyola Brandão, Joel Rufino dos Santos, Nelida Piñon, Ney Lopes, Roberto da Matta, Thiago de Melo e Ziraldo.
A seção de livros infantis e juvenis é uma boa oportunidade para incentivar o gosto pela leitura nos adultos de amanhã.

Simples observações:

- À meia noite e meia do dia 27/05, ainda não estavam no
site do evento as atividades culturais.

- A feira de livros deveria ser realizada a partir de 10 de junho, quando a maioria das empresas já terá feito o pagamento de salários a seus funcionários e o governo do Estado e prefeitura aos servidores públicos. Afinal, livro se compra com dinheiro.

* Foto captada por mim, em Campos, na última Bienal do Livro .

21 maio 2006

Nossa busca


A palavra mágica
by Carlos Drummond de Andrade
Certa palavra dorme na sombra
de um livro raro.
Como desencantá-la?
É a senha da vida
a senha do mundo.
Vou procurá-la.
Vou procurá-la a vida inteira
no mundo todo.
Se tarda o encontro, se não a encontro,
não desanimo,
procuro sempre.
Procuro sempre, e minha procura
ficará sendo
minha palavra.
Imagem: FNascimento

16 maio 2006

Alegria e ilusão no país do futebol

Vinte e quatro dias. É o tempo que nos separa da décima oitava edição da Copa do Mundo. Daqui a 576 horas a bola estará prestes a rolar no campo. A euforia tomará conta do povo. Por um tempo não se dará muita importância ao que ocorre no Congresso Nacional, nos Poderes Executivos e nas Assembléias Legislativas, apesar das eleições pra presidente, senadores, deputados federais e estaduais em outubro.

Tem sido assim. A cada quatro anos o brasileiro se deixa envolver pelo futebol, embora não tão-arte como outrora. Ouço torcedores preocupados com a possibilidade de perderem os jogos. A primeira partida do Brasil será às quatro da tarde de uma terça-feira, 13 de junho. Mas este obstáculo deverá ser driblado com televisores nos locais de trabalho ou expedientes mais curtos. Enfim, o dito país do futebol estará voltado pra bola. Nestas horas cabe bem a expressão de que “o mundo é redondo”.

Por mais que o futebol ainda encante, não há o mesmo glamour de antigamente, seja pelo que é mostrado em campo ou pela forma como os jogadores encaram o ofício. O passe está mais valorizado. O “amor à camisa” foi substituído pelo amor às cifras que o time pode oferecer. Sem falar nas brigas em campo, entre torcedores, entre jogadores e entre torcedores e jogadores. Na disputa ganham os que enchem os bolsos. E não somos nós.

O resultado da Copa do Mundo ou de qualquer outra competição em nada altera a minha vida profissional e a de quase todos. Contudo, desejo a vitória do nosso país. Gosto da alegria contagiante no rosto do povo; da bandeira nos carros, em sacadas de casas, varandas de apartamentos. Gosto das bandeirinhas verde-amarelas nas ruas e também das buzinas que lembram que é dia de jogo. Gosto da voz uníssona de um canto a outro do país.

Como num passe de mágica, quando a seleção brasileira está em campo, não faz diferença se a torcida é da favela ou da área nobre. Não importa se temos uma guerra civil na vida real. Todos temos o direito de sonhar. Desejo tão igual: queremos gols. Todos temos o direito de experimentar a alegria. Parafraseando Vinícius de Moraes, e que seja eterna (a alegria) enquanto durar a Copa, pelo menos.

15 maio 2006

Jamanta presidente!

O que o presidente Lula tem em comum com o Jamanta da novela da Globo? Você até pode dizer que os dois não têm nada a ver um com o outro, mas não é a opinião do senador Mão Santa (PMDB/PI). Recentemente, na tribuna, ele disse que "ambos não sabem de nada".

Mecânica de batom

Aprovado o curso mecânica básica para mulheres promovido pelo Detran-RJ. Recomendo!

10 maio 2006

Litoral sanjoanense


Quem estiver no litoral de São João da Barra (RJ), certamente conhecerá a Praia de Grussaí (foto). A praia fica a trinta minutos da cidade de Campos (RJ). A cor de sua água é variável. Pode estar verde ou barrenta por influência do Rio Paraíba do Sul. Muitos campistas, durante o verão, partem para o litoral sanjoanense, deixando Campos quase "deserta".

Foto: Fátima Nascimento

09 maio 2006

Leitura amarga


Existem notícias capazes de causar enojamento que melhor seria não ter conhecimento delas. Mas contrariando o nosso desejo são exatamente as manchetes escabrosas que mais nos atraem. Talvez seja por uma necessidade inconsciente de entender o que motiva pessoas aparentemente tão iguais a nós a atos cruéis e insanos. A informação “Mãe de 16 anos espanca até a morte bebê de dez meses” chamou minha atenção. Mais que isso: deixou-me consternada. O crime ocorreu em Ribeirão Preto no dia 15 de abril.

De acordo com matéria publicada no site “Oi”, a mãe não suportou o choro da criança. O bebê não possuía um botão que o fizesse chorar e parar de chorar, tal qual bonecas que são comercializadas em lojas infantis. Natália era de carne e osso; não resistiu ao espancamento. Segundo laudo do IML, ela teve traumatismo crânio-encefálico e perninhas quebradas.

Atitude que nos leva a questionar “que mãe é essa?”. Ao mesmo tempo em que condenamos sua impaciência e desamor, temos a convicção de que não tinha maturidade pra ser mãe e a quase certeza de que a gravidez foi indesejada. Mas calma lá: não faz muito tempo uma mulher deixou a filha dentro de um saco em um rio. A deste caso já não era adolescente. Não podemos justificar os atos conforme a idade. Parece haver uma maldade entranhada e que vem à tona de repente.

Mas não deve ter sido uma crueldade que provocou a morte de outro bebê há poucos dias. O pai esqueceu a criança dentro do carro. Foi trabalhar. Quando se deu conta, já era tarde. Ela morreu. Tenho pena deste pai, de sua esposa. Uma fatalidade. Mas quando se tem consciência dos atos, a maldade apresenta-se sem máscara e nos agride.

Diz o escritor Alcione Araújo que “o outono é um belo momento no qual a natureza troca de pele, renova-se, rejuvenesce, reúne forças, prepara-se, enfim, para enfrentar o inverno”. A natureza humana também precisa deste tempo. Outras notícias chegarão.
Texto de Fátima Nascimento publicado no Jornal Monitor Campista em 18/04/2006.

06 maio 2006

Trabalho em equipe

É natural na vida o dilema entre sermos nós mesmos ou o que os outros desejam que sejamos. Na verdade essa guerra velada pode começar ainda na adolescência, quando pais cobram que o filho siga determinada profissão. O jovem pode vencer esta batalha, mas não será a única em sua vida.

Mais tarde ele enfrentará novos desafios, inclusive no mercado de trabalho. O principal deles é o próprio ser humano. Trabalhar em equipe é uma das grandes necessidades na modernidade. Pode parecer simples, mas resultados satisfatórios dependem de boa liderança e comprometimento dos que compõem a equipe de trabalho.

Utilidade Pública / Procura-se


Nome: ANGELO HENRIQUE OLIVEIRA FONSECA
Data de Nascimento: 22/10/1989
Desaparecimento: 08/12/2003
Local: Belford Roxo

O blog Verbo Solto quer colaborar na localização de crianças e adolescentes desaparecidos. As informações e imagem foram extraídas do site do Ministério da Justiça. Pra mais informações, clique AQUI.

04 maio 2006

Encanto e desencanto

Rio Paraíba do Sul e seus encantos. Ao fundo, a ponte Barcelos Martins, em Campos, Estado do Rio de Janeiro. A foto eu tirei num período de cheia do rio. Na ocasião, os meninos tentavam conseguir algum peixe. Mas dá pra pescar a esperança, a paz, a dignidade? Geralmente, conforme o nível de água que o nosso Paraíba alcança, a população ribeirinha fica carente de tais "coisas".
Foto by Fátima Nascimento

02 maio 2006

O mar como testemunha


Hora de escrever. Busco na memória cenas que chamaram minha atenção nos últimos dias. Uma delas vem em primeiro lugar. Num dia de descanso, sem trabalho, fora de casa e da cidade, o sol me convidou a ir ao encontro do mar.

Em dia de praia quase deserta o melhor é ficar perto de pessoas que estejam em família, tipo pai e mãe com criança. É mais seguro. Quem curte praia e natureza preza a brisa suave, o aroma típico de praia. Mas naquele dia estava diferente.

Enquanto eu caminhava e observava em derredor da praia em busca do lugar adequado pra me acomodar, o vento foi portador de um cheiro que não combina com o mar, o sol, a brisa agradável de uma orla marítima. Dois rapazes faziam uso de alucinógeno. Fumavam maconha na beira-mar.

Que alucinações poderiam ser melhores que a realidade da beleza do mar, do sol esplendoroso, da calmaria de uma praia com pouca gente? Seus corpos estavam ali, mas a cabeça deles devia estar longe. Entraram no mar, talvez com tubarões em seus pensamentos.

Após algum tempo sentada, fui caminhar e correr. Eles tinham ido embora quando voltei. A praia estava ainda mais vazia. O pai, a mãe e a criança continuavam no mesmo lugar. Não sei se viram o que ocorria há poucos metros donde estavam.

Não precisamos perder a razão com alucinógenos. Mas manter a mente sã pra transformar sonhos em realidade. Leonardo Boff, no livro Ética da Vida, diz que o coração humano, não possui apenas fome de pão, “mas principalmente fome de sentido, de acolhida, de espiritualidade e de Deus”. Fomes estas não saciadas com drogas.
Texto e foto de Fátima Nascimento - Jornal Monitor Campista, 11/04/2006

01 maio 2006

Lula lá no Caricarte do Nei


Registro do amigo Nei Lima no seu blog Caricarte. Trouxe pra cá pra dividir com os leitores do Verbo Solto. Sou admiradora de charges e caricaturas!

Humana

Há momentos em que o cansaço, a decepção, o "não dar conta" sufocam... Nessas horas, eu saio de dentro de mim e esbravejo. E a ves...