02 janeiro 2012

Faz de conta da virada

Primeira semana de 2012. E chove. Gosto de ver a chuva da minha varanda. É bom estar protegida sob um teto sem goteiras e ter uma coberta ao alcance de minhas mãos, além de agasalhos no guarda-roupas. Mas não está totalmente bom. Vi uma reportagem na televisão que nos faz valorizar o que temos, mas ao mesmo tempo bate doído na gente. Era sobre o réveillon de pessoas que moram nas ruas. Antes havia visto uma matéria sobre a comemoração da virada de ano do ex-jogador Romário. Tão contraditório!

Um dos entrevistados falou da dificuldade de conseguir emprego. Ele confessou que durante 10 anos "trabalhou com drogas". Quando tenta um trabalho, seus possíveis empregadores levantam sua ficha na polícia e a esperança de emprego escorre pelo bueiro. "A sociedade precisa ver os moradores de ruas como seres humanos", apelou o jovem que vive com sua mulher grávida de 7 meses na rua.

Será que ele ainda ainda é usuário de drogas? A mulher dele é dependente química? Por força de um trabalho social, converso com homens e mulheres que abandonaram suas casas numa entrega total ao vício. Tantos foram relegados pelas famílias que já não suportavam viver com um "inimigo" sob o mesmo teto. Os drogados passaram a viver em ruas escuras mesmo no clarão do dia.

As histórias podem ser diferentes ou bem semelhantes. O que não muda e deve ser defendida é a dignidade humana. Se há doentes físicos ou doentes da alma, que sejam acolhidos; que haja programas sociais eficientes e eficazes; que a prevenção seja feita nas escolas, igrejas, em casa.

Meu desejo é que em 2012 os nossos governantes não brinquem de chefe do executivo! Não há nenhuma graça em morar debaixo de viadutos e dividir espaço com ratos e baratas. Não é divertido não ter privacidade, não ter agasalhos, comida e não ter a opção de fechar a janela enquanto chove.

                                                                Foto: Fátima Nascimento

Humana

Há momentos em que o cansaço, a decepção, o "não dar conta" sufocam... Nessas horas, eu saio de dentro de mim e esbravejo. E a ves...