Dez anos depois, eu me reencontrei com o homem do sinal.
Onde? No mesmo semáforo de antigamente, esquina da Barão de Miracema com a movimentada Avenida 28 de Março.
Naquele dia, domingo 27, estava sozinha no carro.
Ele estava só, sentado no meio fio.
Quando vi que era ele, abaixei o vidro.
Ele se levantou com a destreza de quem há anos equilibra a vida sobre uma perna.
O homem do sinal sorriu o sorriso de outrora, reconhecendo-me.
- Você está com o rosto mais cheio! - ele me disse, elegantemente.
Em seguida, sem reservas, perguntou se eu havia votado em Wladimir; se tinha filhos, recomendou que eu adote uma criança... Se eu continuava em jornal... Falou que o Monitor Campista (jornal centenário que foi fechado) deveria voltar a circular...
Entre o vermelho e o verde do sinal, aquele homem conversou amistosamente.
Na sua lembrança, destacou que certa vez dei a ele uma caixa de halls para venda.
Dez anos depois, um gesto simples ainda nutria nele a esperança.
A moeda não era o principal.
Naquela rápida conversa, ao final, ele disse, "não deixe de ter bom humor!".
Dei a partida. E segui.
A história pode ser bonita. A conversa foi amistosa.
Mas nada tira a certeza de que o homem do sinal sobrevive.
E precisa viver.
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Veja, abaixo, o texto que escrevi há 10 anos.
O homem do sinal
E também tem uma crônica em que mencionei o homem do sinal. Veja aqui.
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