10 junho 2021

O livro

Pedro Lucas caminhava numa praça de seu bairro, onde viu uma jovem sentada sobre a grama. Junto dela, um livro.

Curioso, quis saber o que lia. Aproximou-se devagar, olhando para o céu, disfarçando o interesse.

O que as palavras daquele livro diziam pra ela? Era a pergunta que Pedro Lucas se fazia.

O semblante da jovem era sereno e ao mesmo tempo perturbador... Ora, sorria; ora, enrugava a testa; ora, parecia esboçar um choro. 

Já perto, foi surpreendido com uma indagação:

- Você sabe ler?

Pedro, de início, ficou sem fala... Não queria ser notado... Desejava ler o título do livro. Depois, ir embora.

- Sei - respondeu (pela idade, como poderia pensar que não soubesse?).

Ela, animada, ficou de pé, e disse:

- Você pode dizer o que está escrito aqui?

Sem entender, Pedro Lucas segurou o livro. Tinha um trecho que estava sublinhado. 

Antes, perguntou o nome dela.

- Betânia... Pode me chamar de Bê mesmo!

Ajeitou os óculos, colocou o livro diante de si, segurou com firmeza e leu o que estava grifado:

- "...por dentro ainda sou a menina que se assusta ou diverte com qualquer bobagem que outros nem percebem, entretidos que estão com assuntos mais importantes".

O texto era de Lya Luft, da obra "O rio do meio".

Bê abriu um sorriso largo e sentenciou:

- Não estou mais sozinha! Você é como eu!

Pedro Lucas sorriu alto. Nunca tinha feito isso em público!

Pela primeira vez, olhou pra si com imensa ternura e aceitação.

Não era um tolo. Escolheu ser feliz. 


(Fátima Nascimento)

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