Pedro Lucas caminhava numa praça de seu bairro, onde viu uma jovem sentada sobre a grama. Junto dela, um livro.
Curioso, quis saber o que lia. Aproximou-se devagar, olhando para o céu, disfarçando o interesse.
O que as palavras daquele livro diziam pra ela? Era a pergunta que Pedro Lucas se fazia.
O semblante da jovem era sereno e ao mesmo tempo perturbador... Ora, sorria; ora, enrugava a testa; ora, parecia esboçar um choro.
Já perto, foi surpreendido com uma indagação:
- Você sabe ler?
Pedro, de início, ficou sem fala... Não queria ser notado... Desejava ler o título do livro. Depois, ir embora.
- Sei - respondeu (pela idade, como poderia pensar que não soubesse?).
Ela, animada, ficou de pé, e disse:
- Você pode dizer o que está escrito aqui?
Sem entender, Pedro Lucas segurou o livro. Tinha um trecho que estava sublinhado.
Antes, perguntou o nome dela.
- Betânia... Pode me chamar de Bê mesmo!
Ajeitou os óculos, colocou o livro diante de si, segurou com firmeza e leu o que estava grifado:
- "...por dentro ainda sou a menina que se assusta ou diverte com qualquer bobagem que outros nem percebem, entretidos que estão com assuntos mais importantes".
O texto era de Lya Luft, da obra "O rio do meio".
Bê abriu um sorriso largo e sentenciou:
- Não estou mais sozinha! Você é como eu!
Pedro Lucas sorriu alto. Nunca tinha feito isso em público!
Pela primeira vez, olhou pra si com imensa ternura e aceitação.
Não era um tolo. Escolheu ser feliz.
(Fátima Nascimento)
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