18 novembro 2010

O espanto e a poesia

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Poeta Ferreira Gullar na VI Bienal do Livro de Campos





















A considerar o dito por Ferreira Gular na Bienal do Livro de Campos, este homem está há 80 anos poeta e vive “espantado”. Segundo ele, “o poeta nasce poeta, mas tem que saber usar o seu instrumento de expressão”. Sobre o espanto, ele explica:

- No fazer poesia a coisa fundamental é o espanto; algo que me surpreende e me revela um aspecto da realidade que eu ainda não havia percebido. O espanto é que gera o poema. Você tem que saber construir o poema – disse Gullar.

A conversa com o escritor aconteceu no dia 13/11, sob o tema “Ferreira Gullar: 80 anos de poesia”. A seguir, outras falas do poeta durante o evento:
“A poesia é uma invenção. Vivemos do que formulamos, do que inventamos”.
“O que crio é uma coisa verbal, o que o idioma possibilita. Eu não posso traduzir, eu posso inventar um poema, frases, mas não é aquilo que aconteceu”.
“Eu me preocupo com o país. As coisas têm que ser feitas com consciência e paciência”.
“A justiça é uma invenção do ser humano porque sem a justiça a sociedade não subsiste”.
“A vida é feita de acaso e necessidade”.

O poeta foi bastante prestigiado. Arenal Cultural lotada, com mediação da professora Arlete Sendra. Abaixo um poema de Gullar.


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Dois e dois: quatro


Como dois e dois são quatro
sei que a vida vale a pena
embora o pão seja caro
e a liberdade pequena

IMG_7073Como teus olhos são claros
e a tua pele, morena

como é azul o oceano
e a lagoa, serena

como um tempo de alegria
por trás do terror me acena

e a noite carrega o dia
IMG_7086no seu colo de açucena


- sei que dois e dois são quatro
sei que a vida vale a pena

mesmo que o pão seja caro
e a liberdade, pequena.

(Ferreira Gullar)
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3 comentários:

Splanchnizomai abraçando o amanhã. disse...

"Que linhas raras deu você a essa Bienal!" ( Meu tio Aloisio usava esta frase quando via algo inusitado...)
Que poema singelo, forte e marcante deste Ferreira, não? Esses ferreiros do Brasil...

Só falta eu descobrir sobre o quarto ferreira ou ferreiro para trazer uma postagem bem denunciante e anunciante.

Seu jeito de declarar sua impressão das coisas é muito "fotoshowpalavrante".

"Tem nexo o que escrevi?" rsrs

Caca disse...

Um dia , escrevendo uma resenha sobre um livro de Italo Calvino, não resisti a uma citação e usei uma definição do Ferreira Goulart que acho fantástica e é uma referência para mim até hoje:

" o poeta desafia o impossível e tenta no poema dizer o indizível: subverte a sintaxe, implode a fala, ousa incutir na linguagem densidade de coisa sem permitir, porém, que perca a transparência já que a coisa é fechada à humana consciência." (F. Gullar – não coisa).

Esse cara é ótimo! Abraços. Paz e bem.

Mar disse...

Deixo aqui minha admiração e meu carinho por Ferreira Gullar. Trata-se de um grande homem, grande autor, grande poeta, grande decifrador desse mundo de realidades paralelas infindáveis que nos envolvem.
Alina Burkeinhelve disse que "Há um tempo em que a lenda vive entre os homens, como homem; depois vêm os anos em que alguns homens vivem entre os homens, como lendas".
Aplica-se aqui e agora, a Ferreira Gullar.
Um abraço carinhoso
Lello

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