11 agosto 2010

O conselheiro


Foi numa tarde à beira-mar que a vi. Ela contemplava o horizonte e se emocionava com o vai e vem das ondas. A mulher parecia dialogar com o mar. Pude ouvir algumas de suas palavras.

Dizia, definindo-se, que era uma pessoa “incerta”, dúvidas vestiam-na. Fiquei curiosa com o discurso daquela mulher. De repente, disse bem alto:

- Não vou abrir mão do que gosto!

O mar, que estava calmo, ficou agitado. Mas durou pouco tempo. Novamente sereno, uma voz ecoou da imensa água.

- Minha amiga, a vida e o tempo são generosos contigo... Olhe ao seu redor... Veja suas conquistas... Não cubra os olhos... Esteja alerta... Não despreze sua intuição... Não construa problemas... Não crie “fantasmas”! Quem disse que tem que abdicar do que tanto gosta? Será que não é você quem está se dizendo isso?

Ao ouvir aquele papo mulher-mar, senti-me uma pérola fora da concha; um céu sem nuvem; uma música sem som. Não conhecia a história.

O conselho do mar, decerto, foi útil àquela mulher. E me servirá para que “fantasmas” não me impeçam de caminhar.

(Fátima Nascimento)
 
 
Foto: Fátima Nascimento   Local: Praia de Copacabana, Rio de Janeiro/RJ

5 comentários:

Luiz Felipe Muniz disse...

Adorei esta postagem, Fátima!

Permita-me:

Nas vozes da incerteza caminhamos todos;
Nos fluxos da biosfera renascemos permanentemente do caos ao cosmos;
Mas são nos sentidos de nossas almas que as lições se acumulam e aglutinam forças para que saibamos num sopro a realidade daquilo que de fato somos ou deixamos passar...felizes pois não só os que detém o verbo, mas todos que soltam suas mentes aos sabores multiformes dos refúgios mais ocultos do eu!

Luiz Felipe

Fátima Nascimento disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Fátima Nascimento disse...

Luiz Felipe, valeu pela presença. Vamos nos enturmando por cá. Meu abraço.

Unknown disse...

Maneiro esse conto! Gostei!

Unknown disse...

Maneiro esse conto!Gostei!

Quando o grito interior sai de casa

Em casa, o direito ao berro devia ser universal. Em regra, portas e janelas alheias espreitam, assombradas. É preciso saber muito de si para...